sábado, 17 de janeiro de 2009

Aborto e a Consciência Cristã


Aborto e a consciência cristã

Tanto quanto parece, talvez por Janeiro de 2007 os portugueses serão colocados, num referendo, perante esta pergunta: “Concorda com a despenalização da IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez), a pedido da mulher, até às dez semanas de gravidez, e numa clínica legalmente autorizada?”.
Quanto a mim, votarei com um “sim”, apesar de ser, por princípio, contra a prática do aborto. Creio, porque é assunto do foro íntimo, que nas congregações cristãs protestantes as mulheres em geral não recorrem ao aborto, nem nenhum cristão convicto aconselharia sua esposa ou filhas a essa prática, salvo, talvez, se os médicos informassem que o feto em formação viria atingido de grande malformação.
Mas ser, por princípio, contra o aborto e responder “sim” no próximo referendo pode parecer contraditório. Não o é, porém, pois a verdade que temos de ter bem presente é que há muitas mulheres que, por várias circunstâncias se vêem condenadas a abortar, recorrendo as economicamente mais desfavorecidas ao aborto clandestino, que tem matado algumas ou deixado outras com sequelas físicas ou psicológicas profundas para o resto da vida, por causa das más condições em que os abortos são feitos e da má preparação dos ou das abortadeiras. Ninguém ignora que milhares de portuguesas remediadas ou ricas que decidem recorrer ao aborto fazem-no em clínicas no estrangeiro, em condições apropriadas e em perfeita legalidade. O meu voto não é para uma “liberalização do aborto”, mas para a despenalização das mulheres que, por diversas e ponderadas razões, se submetem aos abortos. Responder “sim” não é defender a prática indiscriminada do aborto, mas significa não acrescentar à dor de ter de abortar, a humilhação e o sofrimento da penalização. Dizer “sim” no referendo é estar do lado das famílias menos favorecidas onde e quando houver a imperiosa necessidade de recorrer ao aborto, com a decisão final da mulher.
A situação ideal seria que todas as gravidezes pudessem seguir até ao fim e que as crianças geradas pudessem ser recebidas com alegria e gratidão pelos pais. Infelizmente, contudo, não vivemos ainda num mundo ideal, mas num mundo imperfeito, onde a própria natureza é imperfeita. Os cristãos devem ser exortados a enfrentar os obstáculos e manter reverência pela vida, desde o momento da fecundação até ao último suspiro, pois cremos que desde a sua concepção o embrião é uma vida e só Deus é Senhor dela. Mas a reverência pela vida aplica-se também à mulher, de consciência formada, protagonista de uma gravidez que não pode ser acolhida com alegria. Além disso, os cristãos não devem impor as suas convicções a outros, nem ignorar que a penalização do aborto não impede a manutenção dessa prática, assim como a penalização dos acidentes mortais nas estradas não impede a ocorrência de acidentes. A hipocrisia está em negar essa evidência, e nada se fazer para encorajar a educação sexual, os métodos anticoncepcionais, e as condições económicas das famílias. O aborto tem sido continuamente, em Portugal, considerado um crime, mas nem por isso tem deixado de existir e ceifar a vida de muitas mulheres.
O aborto, em geral, não é decidido de ânimo leve, nas com imensa dor. Penso que as pessoas que dizem com sorrisos e ar de diversão serem a favor do aborto são, por certo, superficiais e que nunca reflectiram seriamente nos factos. As mulheres que já abortaram, em geral, falam dessa opção como algo dramático que fizeram por absoluta impossibilidade de ir até ao fim da gravidez. Ninguém vê o aborto como um método anticoncepcional, mas como uma solução trágica, tal como a amputação de uma perna ou de um braço.
Amar o próximo e respeitar a vida significa também ser solidários com todas as mulheres que sentem dever recorrer à Interrupção Voluntária da Gravidez, e não aumentar a sua dor com a nossa condenação. Se Cristo, não sendo pecador, aceitou o baptismo do arrependimento, feito por João Baptista, e se fez maldição para salvar a humanidade Gálatas 3:13, como não hão-de as cristãs e os cristãos que, por princípio, não apoiam o aborto, apoiar a despenalização das mulheres que ao aborto tiveram de recorrer? A Bíblia diz: “Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo” Gálatas 6:2 .

ABUSO ESPIRITUAL- III


A legislação brasileira condena de forma repressiva atitudes que versam sobre a honra, moral e imagem da pessoa humana. O legislador Constitucional teve a preocupação de proteger tais aspectos, e logo em seu artigo 5º, X, elucida:
“são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;”

Neste caso todos estão incluídos, sem distinção de sexo, raça ou religião, como preceitua o mesmo artigo 5º do Diploma Supremo brasileiro, senão vejamos:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”
Em que pese o desprezo público que os fiéis são submetidos por parte dos “pastores”, o diploma que rege a vida civil do cidadão brasileiro, o Código Civil, condena de forma veemente tais atitudes, facultando àquele que teve seu direito lesado (no caso os fiéis), a invocar o que chamamos de TUTELA INIBITÓRIA consubstanciada na parte inicial do caput do art. 12º do Código Civil, onde ao ofendido é facultado requerer judicialmente que cesse a ameaça de lesão a seu direito.

“Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. “
Não resta dúvida que de forma genérica, essas situações demonstram total desrespeito ao que protege o ordenamento jurídico, afetando não só normas infra-constitucionais como, e principalmente, a pedra angular do Direito brasileiro, justamente nos pontos mais protegidos pela Carta Magna.
Como não bastasse infringir as normas cíveis, o referido tema extrapola seus limites e vai de encontro até às normas penais, onde pode se caracterizar a título exemplificativo, e na melhor das hipóteses, a DIFAMAÇÃO, atinente ao que reza o art 139 do Código Penal brasileiro, conforme se observa.

“Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.”

Ocorre que estes líderes utilizam-se de reprovações públicas aos seus membros tidos como desobedientes, de maneiras muitas vezes degradantes. O fato é que, embora os pastores aleguem que os fiéis ao se tornarem membros estão cientes e aceitaram tais atitudes por parte de seus líderes, tal alegação não pode prosperar, vez que é totalmente ilegal, ferindo diretamente o que preceitua o artigo 5°, II da Constituição Federal:

“II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.

Com isso o fiel ainda que esteja vinculado à determinada igreja, não está obrigado a cumprir suas normas caso estejam indo contra a lei e ainda possuem amparo legal para invocar a tutela jurisdicional (seus direitos) ao Estado, basilados nos dispositivos abaixo:

CONSTITUIÇÃO FEDERAL

“Art. V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; ”

CÓDIGO CIVIL

“Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma”.

Pelo acima exposto, não podemos convalidar tais atitudes, antes devemos como cidadãos exercer a nossa prerrogativa da cidadania de forma plena, não só conhecendo, mas invocando aquilo que nos é dado de direito.
Como cristãos apenas dizemos que cometemos um grande erro quando nos esposamos nos pensamentos e atitude de pastores que consideram normais esses tipos de condutas, cremos que enquanto seguidores do pensamento de Cristo, devemos ser um povo ordeiro, cumpridores daquilo que nos é imposto pela lei humana, pois esse foi um dos ensinamento que o Mestre nos deixou.
Precisamos entender que a ninguém é dado o direito de macular a honra, a moral de outrem por quaisquer que sejam os motivos, é bom lembrar que somos pessoas honradas e que o dano que esses líderes causam em seus fiéis não são mera contrariedade e sim uma enorme dor na alma. Como já diria Shekespeare, em Ricardo II: “Minha honra é minha vida; meu futuro, de ambas depende. Serei homem morto se me privarem da honra...”.

ABUSO ESPIRITUAL- II


Abuso Espiritual (AX) (1) - Parte 2
“Não Toqueis nos Meus Ungidos”
(Atenção: O material a seguir destina-se à leitura de pessoas maduras e pode ser profundamente perturbador à grande maioria dos leitores. O autor recomenda grande discrição no uso deste material e na exposição do mesmo)


INTRODUÇÃO
A vasta maioria dos membros das assim chamadas “igrejas evangélicas” de todos os matizes – sejam protestantes, evangélicas propriamente ditas, pentecostais, carismáticas e da terceira onda – já tiveram a oportunidade, em um ou outro momento, de presenciar um pastor, presbítero, missionário, evangelista, apóstolo, profeta ou algo que o valha, subir ao púlpito de uma comunidade qualquer e mandar ver um sermão acerca de não toqueis nos meus ungidos. Junto com o sermão, bastante impróprio, diga-se de passagem, vem um besteirol que beira realmente às raias do ridículo.
Estes sermões são todos motivados pelo conceito errado e realmente perverso de que aqueles que servem ao Senhor nas funções de pastor, presbítero, missionário, evangelista, apóstolo ou profeta etc, são realmente “servos especiais” que pertencem a uma categoria que é distinta de todos os outros crentes. Como “servos especiais”, estas pessoas, pois existem homens e mulheres nesta categoria, imaginam que estão acima de qualquer tipo de crítica e que podem mandar e desmandar na Igreja do Senhor, porque, segundo eles mesmos, o Senhor lhes concedeu poder e autoridade “especiais”. Por este motivo todo e qualquer criticismo, não importa a intenção, será confrontado vigorosamente através de vários mecanismos entre os quais se encontra o famigerado sermão acerca de não toqueis nos meus ungidos.
Mas existem mesmo pessoas especiais para Deus? Existem mesmo pessoas que recebem um batismo com o Espírito Santo que é mais poderoso do que o batismo com o Espírito Santo que veio sobre todos os outros cristãos? Existe realmente uma unção que é maior, melhor, mais poderosa do que a unção com que o próprio Deus ungiu a todos os crentes no Senhor Jesus Cristo?
Outro dia o autor tomou conhecimento de que um falso mestre que atende pelo nome de Benny Hinn, declarou ter visitado os túmulos de duas mulheres (2) fundadoras de igrejas cristãs do passado e que “coletou”, para si mesmo, “a poderosa unção” que ainda se encontrava naqueles túmulos cheios de pessoas mortas. Não duvido que ele tenha realmente “coletado” alguma coisa, mas certamente o que ele coletou não tem nada a ver com o Espírito Santo de Deus. Este patético senhor e todos seus seguidores, e não são poucos, estão realmente fora de sintonia com o Deus da Bíblia e com a própria Bíblia como espero demonstrar neste artigo. Quando confrontado por tais práticas estranhas e realmente abusivas o senhor Benny Hinn reagiu com as seguintes palavras: “Se você falar mal de mim, ou contra a unção que está em mim e no meu ministério, seus filhos irão sofrer as conseqüências”. Quão longe este tipo de atitude se encontra do verdadeiro ensino dos Evangelhos fica a critério do leitor decidir. Antes que qualquer leitor desavisado, resolva me escrever com argumentos do tipo “não devemos julgar”, sugiro que leia outro artigo publicado também neste site cujo título é Cristão Pode Julgar? (AX), onde tratamos deste assunto.
Mas como conseguimos chegar neste nível de desarranjo espiritual onde um homem que alega ser pregador da palavra de Deus age como um verdadeiro seguidor do espiritismo kardecista e procura recolher pretensas unções em cemitérios? Tudo isto acontece por um simples, mas poderoso fato, que pode ser assim representado: existem algumas pessoas que se arvoram ares de super-crentes ao mesmo tempo em que existem também, milhares de outras pessoas que estão dispostas a acreditar e seguir os super-crentes a qualquer custo, achando que com isto estão seguindo no caminho de Deus. O autor deseja dizer aqui com todas as letras, apenas que: NÃO EXISTEM SUPER-CRENTES. Tudo o mais será dito no restante deste artigo.

I. Os Abusadores
Abuso espiritual, pode parecer estranho, é um estado de coisas amplamente denunciado nas páginas das nossas Bíblias. No passado, durante os dias do Antigo Testamento, Deus levantou inúmeros profetas para denunciarem este tipo de perversidade. No Novo Testamento, o próprio Senhor Jesus tomou uma boa porção do Seu ministério para denunciar e confrontar aqueles que abusam espiritualmente de outras pessoas. Por estes motivos nós faremos muito bem em ouvir o que eles têm a dizer acerca dos desmandos e abusos que percebemos nos dias de hoje, da parte de homens e mulheres que são extremamente ágeis e rápidos em se proteger debaixo da couraça representada pela expressão não toqueis nos meus ungidos.

A. O Profeta Ezequiel
A passagem de Ezequiel 34:1/6 é certamente a que melhor descreve, no Antigo Testamento, o assunto que é objeto deste artigo, a saber: Abuso Espiritual.
1 Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
2 Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza e dize-lhes: Assim diz o SENHOR Deus: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não apascentarão os pastores as ovelhas?
3 Comeis a gordura, vestis-vos da lã e degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas.
4 A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada não ligastes, a desgarrada não tornastes a trazer e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza.
5 Assim, se espalharam, por não haver pastor, e se tornaram pasto para todas as feras do campo.
6 As minhas ovelhas andam desgarradas por todos os montes e por todo elevado outeiro; as minhas ovelhas andam espalhadas por toda a terra, sem haver quem as procure ou quem as busque.
Nesta passagem nós encontramos a palavra do Senhor vindo até o profeta Ezequiel lhe ordenando que profetize contra os pastores de Israel. Por esta expressão, como fica evidente pelo contexto, devemos entender que o profeta não está se referido literalmente a pastores de ovelhas, e sim a todos os líderes da nação de Israel. Ele dirige suas palavras aos magistrados e aos príncipes, aos levitas e aos sacerdotes i.e. a todos aqueles que tinham a responsabilidade de cuidar do povo de Deus. De zelar sobre o povo de Deus, de protegê-lo e de não explorá-lo.
Através do profeta Ezequiel é o próprio Deus quem tem algo a dizer a estes líderes. E Deus fala de uma posição privilegiada já que Ele mesmo é reconhecido como o pastor por excelência sobre seu povo – ver Salmos 80:1. E como pastor sobre Seu povo, Deus é louvado, de forma magistral por Davi no Salmo 23 que começa exatamente com as palavras O SENHOR é o meu Pastor, nada me faltará! Fala o Deus-pastor de Israel e diz: “Ai dos pastores de Israel”! E nesta expressão nós encontramos uma vibrante contradição entre como aqueles homens se viam e como o Deus-pastor os via. Como iremos perceber os problemas causados por pastores abusadores, existem desde os tempos mais antigos.
Pastores, como líderes, gostam de pensar de si mesmo como pessoas diferenciadas, acima das outras pessoas. Gostam de se ver como sendo “especiais”, como super-crentes. Apesar de gostarem de se ver desta maneira, Deus não está nem por um segundo interessado em participar no jogo deles. Suas palavras são de condenação absoluta desde o começo: “Ai dos pastores de Israel”. Aqueles homens achavam que as posições que ocupavam eram tão dignificadas que os tornavam, automaticamente, isentos e imunes a toda e qualquer forma de crítica. Não entendiam que as posições que ocupavam, bem como as funções que executavam, realmente, não os isentavam de ter que admitir seus erros, de ter que confessar seus pecados e de sofrer as graves conseqüências dos juízos de Deus, caso não se arrependessem. Esta palavra realmente dura da parte do Senhor é motivada pelo fato de que os pastores não são “donos” do rebanho de Deus e por este motivo não podem tratar o rebanho de Deus de qualquer maneira e muito menos de maneiras que sejam abusivas. Pastores, como diz o apóstolo Pedro, não passam de cooperadores submetidos ao Senhor Jesus que é chamado de Supremo pastor – ver I Pedro 5:4. O motivo porque o Senhor usa tão duras palavras foi expresso de forma perfeita pelo profeta Jeremias quando diz: Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto! — diz o SENHOR – Jeremias 23:1. Porque somos ovelhas do pasto do Senhor, é que Ele se mostra tão aborrecido quando somos maltratados por aqueles que deveriam realmente cuidar de nós. Todos aqueles que são chamados, pelo SENHOR, para ajudar a cuidar das ovelhas do Seu pasto, vejam bem como procedem porque Deus não se agrada de tolos – ver Eclesiastes 5:4! Conforme podemos ver neste texto de Ezequiel, Deus irá sempre tratar com firmeza aqueles que não viverem à altura dos compromissos assumidos como pastores e servos a serviço do povo de Deus.
Ezequiel, falando em nome do Deus-Pastor de Israel, confronta os pastores dos seus dias de várias maneiras.
1. Em primeiro lugar existe a pergunta mais básica que precisa ser respondida e que é: por que existem pastores? A resposta nos vem através de uma pergunta feita pelo profeta: Não apascentarão os pastores as ovelhas? Pastores existem, primariamente, para apascentar as ovelhas. Para cuidar das ovelhas. E devem executar estas funções sem condenar e sem brutalizar as ovelhas. Usando uma linguagem bastante direta, o profeta acusa os pastores de estarem cuidando de si mesmos em vez de estarem cuidando das ovelhas: Ai dos pastores que se apascentam a si mesmos. Ezequiel 34:2 Como se não fosse terrível o bastante ignorarem as necessidades das ovelhas por estarem por demais ocupados consigo mesmos, estes pastores ainda tratavam as ovelhas com extrema brutalidade, pois o profeta diz: Comeis a gordura, vestis-vos da lã e degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas Ezequiel 34:3 e dominais sobre elas com rigor e dureza. Ezequiel 34:4 O interesse daqueles pastores estava muito mais nos benefícios materiais que poderiam receber das ovelhas – carne, gordura, lã - do que nos benefícios espirituais que poderiam e deveriam repartir no cuidado do rebanho. Para Ezequiel, o interesse daqueles pastores não estava centrado no chamado de Deus e no pastoreio e sim no poder e no controle que exerciam sobre as ovelhas.
2. Em segundo lugar existe a triste constatação de que os pastores estavam negligenciando por completo suas responsabilidades, mesmo as mais básicas. O profeta diz: A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada não ligastes, a desgarrada não tornastes a trazer e a perdida não buscastes. Ezequiel 34:4 Mas que situação tão terrível! Por que estes homens agiam assim desta maneira? Além da absoluta falta de interesse verdadeiro pelas ovelhas, eles agiam desta maneira em parte por ignorância e em parte por preguiça. O despreparo dos pastores é notório e a preguiça de muitos deles também. Deixa o rebanho pra lá, dizem. O rebanho só me interessa pelo que posso conseguir dele, o resto é realmente irrelevante. Pensam e agem assim porque sabem que o povo os tem em alta estima e ninguém vai realmente querer peitar o “ungido do Senhor”.
3. O resultado direto deste descaso e ignorância não demora a ser sentido. Ovelhas sem cuidados pastorais e maltratadas tendem a se espalhar, por não haver pastor, e acabam por tornar-se pasto para todas as feras do campo. Este é o triste fim de todas as situações de abuso espiritual que encontramos, mesmo nos dias de hoje: ovelhas dispersas, abandonadas e sendo devoradas por todos os tipos de “feras”. O profeta constata, em nome do Deus-Pastor de Israel, esta triste realidade ao dizer: As minhas ovelhas andam desgarradas por todos os montes e por todo elevado outeiro. Ezequiel 34:5. Ovelhas abusadas só conseguem resistir até certo ponto. Algumas chegam mesmo a morrer dentro do próprio redil – a comunidade local que chamamos de igreja. Outras, não agüentando mais os abusos, preferem abandonar o redil. E os pastores demonstram algum tipo de preocupação? As palavras de Ezequiel estão repletas de desconsolo neste quesito: as minhas ovelhas andam espalhadas por toda a terra, sem haver quem as procure ou quem as busque. Ezequiel 34:6. A triste conclusão a que chegamos ao analisar este texto é a mesma de muitos irmãos que têm nos procurado para nos dizer: melhor ficar sem pastor, do que sob os cuidados, ou melhor, a falta de cuidados, deste tipo de pastores denunciados pelo profeta.
Não podemos ignorar que os pastores abusadores, não desistem de seus atos de abuso, mesmo quando as ovelhas saem dos seus redis. Estes abusadores perseguem as ovelhas, visando trazê-las de volta à situação terrível da qual haviam escapado. Quando encontram resistência por parte da ovelha que saiu, a atitude dos abusadores é, como o leitor já sabe, mais abuso. Falsas acusações de insubordinação, de insubmissão e falta de consagração a Deus são apenas o começo. Visando intimidar a “ovelha desgarrada”, pastores abusadores partem para os mais baixos tipos de manipulação que incluem: dizer que a “ovelha desgarrada” nunca foi verdadeiramente crente, ou pior, dizer que a “ovelha desgarrada” vai direto para o inferno. Depois, com a cara lavada, estes abusadores sentem-se livres para afirmar que suas igrejas são igrejas que “cuidam realmente” das pessoas e ninguém poderá dizer que não tentaram trazer a ovelha desgarrada de volta.
Mas é interessante notar, que nestes encontros, que visam à reconciliação, não existe, por parte dos abusadores, nem uma palavra de admissão de erros cometidos. Como são os “ungidos do Senhor” estão muito acima até mesmo da possibilidade de cometerem o menor pecado. Afinal eles ensinam, que pastores, não cometem erros nem pecados e não precisam nunca pedir perdão. E quando apertados, costumam sacar, sem a menor cerimônia, seu texto favorito que diz: Não toqueis nos meus ungidos! São realmente patéticos nestas horas.
A verdade que muitas vezes resistimos em reconhecer, e pessoas abusadas sentem esta dificuldade de uma maneira muito mais aguda, é que existem muitos homens, mas muitos mesmos, que se intitulam pastores, são até mesmo ordenados, mas que na realidade não são pastores de verdade. Não possuem chamado, não se submetem ao Senhorio de Jesus e não se dispõe ser aquilo que devem ser: servos, a serviço do povo de Deus. Muitos hoje estão no ministério apenas por interesses financeiros e comerciais. Como “ser pastor” se tornou em apenas mais uma profissão, o pastor-abusador fará de tudo que estiver ao seu alcance para não perder sua “boquinha”.

B. O Senhor Jesus e os Falsos Pastores
Nos dias em que andou por este mundo, o Senhor Jesus foi um ferrenho adversário dos falsos pastores. Jesus se opôs abertamente contra todos aqueles que, chamando-se pastores, se ocupam realmente somente consigo mesmos e abandonam o rebanho completamente. A situação do povo de Israel nos dias de Jesus não era nem um pouco diferente daquela que encontramos nos dias do profeta Ezequiel. O evangelista Mateus nos diz que: Vendo ele – Jesus - as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor – Mateus 9:36”.
O encontro frontal entre Jesus e os falsos pastores de Israel dos seus dias, será discutido na parte 3 desta série.

II. “Não Toqueis nos Meus Ungidos”
Conforme mencionamos anteriormente, pastores abusadores gostam de pensar acerca de si mesmos, como sendo super-crentes. Gostam de pensar acerca de si mesmos como pertencendo a uma casta realmente separada e distinta de todos os outros irmãos. Dentro desta visão costumam, por um lado, torcer textos bíblicos para beneficiá-los e por outro lado inventam uma série de normas que são colocadas em prática tão logo são questionados ou se sentem ameaçados. É importante que deixemos bem claro que na grande maioria das vezes, este sentimento de que estão sendo ameaçados, é completamente irracional. Vamos primeiro ver os textos favoritos dos pastores abusadores quando o assunto é a auto-defesa deles, e em seguida, veremos algumas das normas mais comuns implementadas em suas defesas. Não podemos nunca nos esquecer que todos os recursos utilizados pelos pastores abusadores visam não deixar nenhuma dúvida na cabeça de nenhuma pessoa acerca de quem realmente manda!

A. Os Textos Bíblicos Favoritos dos Pastores Abusadores
Os pastores abusadores gostam de se ver como pertencentes a uma classe toda especial de pessoas. Uma das maneiras favoritas de se descreverem é atribuir a si mesmos o pomposo título de “ungido do Senhor”. Com isto querem dizer que são objetos de uma unção toda especial da parte de Deus. Esta “unção” possui verdadeiro poder mágico de transformá-los em super-crentes. Como tais, estão imunes de cometer os mesmos erros que todos nós estamos sujeitos a cometer. Como não cometem erros, não têm nada acerca do que devem pedir perdão. Como não cometem erros nem pecados, são também inatacáveis e não podem sofrer nenhum tipo de crítica ou censura. Qualquer pessoa que ouse criticá-los ou condená-los por práticas abusivas será severamente tratada.
Mas vamos considerar, por breves instantes, o mito de que a expressão não toqueis nos meus ungidos diz respeito aos pastores abusadores. Mitos nada mais são do que palavras que assumiram um significado diferente daquele que lhe foi atribuído pelo autor original. O mesmo é verdade com o mito criado em torno da expressão não toqueis nos meus ungidos, como podemos perceber pela evidência a seguir.
1. A expressão “ungido do Senhor” é bíblica e ocorre exatas oito vezes no texto hebraico do Antigo Testamento. Seis destas oito menções fazem referência ao rei Saul. Uma faz referência ao Rei Davi e uma diz respeito ao Ungido do Senhor como aguardado pelo profeta Jeremias. As menções aos reis Saul e Davi, deixam bem claro que os ungidos do Senhor não eram homens imunes nem a erros, nem a críticas e muito menos à disciplina por parte do Senhor. Ver a lista completa de versículos que trazem a expressão “ungido do Senhor” no final deste artigo.
2. A expressão “teu ungido” é também bíblica e ocorre seis vezes no texto hebraico do Antigo Testamento. Destas seis, uma diz respeito ao rei Davi e todas as outras ao Ungido como esperado pelo povo de Israel. Novamente a referência ao rei Davi é um claro indicativo que o “ungido do Senhor” era alguém passível de cometer erros, de sofrer críticas e, no caso específico de Davi, de sofrer graves conseqüências por pecados cometidos. Ver a lista completa de versículos que trazem a expressão “teu ungido” no final deste artigo.
3. A expressão “meu ungido”, da mesma forma que as duas anteriores, é bíblica e ocorre duas vezes no texto hebraico do antigo testamento. As duas referências dizem respeito ao Messias ou Ungido como esperado pelo povo de Israel. Ver a lista completa de versículos que trazem a expressão “meu ungido” no final deste artigo.
4. Por sua vez, a expressão “seu ungido”, ocorre onze vezes no texto hebraico do Antigo Testamento e uma única vez no texto grego do Novo Testamento. Estas onze referências estão assim distribuídas:
· 5 vezes fazem referência ao Ungido como o esperado Messias de Israel.
· 3 vezes fazem menção a Saul.
· 1 vez diz respeito à Eliabe, irmão de Davi.
· 2 vezes a citação é referente ao rei Davi.
· 1 vez ao imperador dos Medos, Ciro.
Desta maneira fica fácil notar que quando não se refere ao Ungido que representa o Senhor Jesus, os textos falam de homens que foram tão pecadores como qualquer um de nós. A unção para ser rei sobre o povo de Israel, conferida a Saul e a Davi, não era nenhuma garantia de que aqueles homens estavam imunes do poder do pecado, ou que não poderiam ser criticados e que estariam completamente isentos da disciplina de Deus. Ver a lista completa de versículos que trazem a expressão “seu ungido” no final deste artigo.

5. Por fim restam as duas referências que trazem de forma explícita a expressão não toqueis nos meus ungidos. Estas referências são:
· I Crônicas 16:22 dizendo: Não toqueis nos meus ungidos, nem maltrateis os meus profetas.
Salmos 105:15 dizendo: Não toqueis nos meus ungidos, nem maltrateis os meus profetas.

Antes de analisarmos estes versículos é necessário dizer que os mesmos são idênticos e isto por um bom motivo. O verso de I Crônicas é parte de uma compilação de Salmos que se estende do verso 7 até o verso 36 do capítulo 16 de I Crônicas. Esta compilação contém partes dos salmos 96, 105 e 106.
Conforme dissemos, os dois versículos são idênticos, portanto, a interpretação de um servirá como interpretação para o outro também. A questão mais importante para nós, neste momento, é definir acerca de quem o salmista está falando? Quem são os ungidos do Senhor? O contexto deixa isto bem claro, e por ele nós podemos ter certeza absoluta quem são as pessoas a quem o Senhor se refere como sendo os “ungidos do Senhor” e de “meus profetas”. Salmos 105:8/15 diz o seguinte:
8 Lembra-se perpetuamente da sua aliança, da palavra que empenhou para mil gerações;
9 a aliança que fez com Abraão e do juramento que fez a Isaque;
10 o qual confirmou a Jacó por decreto e a Israel por aliança perpétua,
11 dizendo: Dar-te-ei a terra de Canaã como quinhão da vossa herança.
12 Então, eram eles em pequeno número, pouquíssimos e forasteiros nela;
13 andavam de nação em nação, de um reino para outro reino.
14 A ninguém permitiu que os oprimisse; antes, por amor deles, repreendeu a reis,
15 dizendo: Não toqueis nos meus ungidos, nem maltrateis os meus profetas.

O texto é absolutamente cristalino. Aqueles que são chamados de “ungidos do Senhor” e de “meus profetas” são os descendentes de Abraão, Isaque e Jacó. São os Israelitas. Todos e cada um deles. Ninguém que pertença verdadeiramente ao povo de Israel é deixado de fora.
Portanto, como dissemos, o mito de que os pastores constituem-se em os “ungidos do Senhor”, como uma casta distinta e superior a todos os crentes, não passa realmente de uma invencionice perversa cujo único propósito é munir homens perversos com mecanismos que os possibilitem abusar de suas ovelhas. Precisamos retornar, de maneira urgente, ao padrão bíblico do pastor-servo à imitação do próprio Senhor Jesus.

B. O Ensino do Novo Testamento Acerca de Termos Sido Ungidos por Deus
O Novo Testamento ensina exatamente a mesma coisa que é ensinada no Antigo Testamento. Todos os que pertencem ao Povo de Deus foram ungidos pelo próprio Deus. Todos os crentes verdadeiros, sem exceção recebem uma e rigorosamente a mesma unção. Não existem cristãos mais ungidos que outros cristãos. E, definitivamente, não existem “ministérios ungidos” e muito menos esta figura preconizada por falsos mestres, como Benny Hinn, de que é possível possuir “uma unção” específica, distinta da única unção disponível a todos os cristãos.
O texto de II Coríntios 1:21/22 diz: Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo e nos ungiu é Deus, que também nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nosso coração. Estes dois versos ensinam claramente que só existe uma unção e que todos os cristãos são participantes desta unção, pois o repartir da mesma é um ato do próprio Deus.
Quando Paulo diz que Deus nos ungiu, ele está dizendo que todos nós que somos genuinamente cristãos, fomos ungidos diretamente pelo próprio Deus. Nas tradições judaicas era costumeiro a unção de reis, profetas e sacerdotes quando do início do exercício das suas funções. Isto pode ser observado em Êxodo 28:41 e Êxodo 40:15 com relação aos sacerdotes; em I Reis 9:16 e Isaías 61:1 com relação aos profetas e em I Samuel 10:1; I Samuel 15:1; II Samuel 2:4 e I Reis 1:34 com relação aos reis de Israel. A palavra “ungido” é também usada para se referir, de modo todo especial, ao Senhor Jesus que é chamado de: Ungido (português) = Cristo (grego) = Messias (hebraico). Jesus é o ungido por excelência de Deus já que Ele possui um triplo serviço como Rei, Profeta e Sacerdote. A expressão ungido também é usada para se referir a todos os crentes e indica que os mesmos são consagrados ou separados para o serviço de Deus pelo Espírito Santo. É por causa desta separação ou consagração, que somos chamados e considerados santos por Deus. O apóstolo João disse em I João 2:20: E vós possuis unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento. A conseqüência desta unção na vida de todos os cristãos pode ser vista em alguns versículos mais adiante, no mesmo texto, quando João diz: “Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou. Filhinhos, agora, pois, permanecei nele, para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e dele não nos afastemos envergonhados na sua vinda. Se sabeis que ele é justo, reconhecei também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele – I João 2:27/29 .
Assim temos que existe somente uma unção, que todos os crentes receberam esta mesma unção e que Deus mesmo é aquele que nos unge. Não devemos, portanto, ter medo de desmascarar a qualquer um que pretenda ser possuidor de algum tipo especial de unção. Unção especial só existe uma: é aquela com Deus mesmo ungiu a todos os crentes, sem exceção! Qualquer outra invencionice não passa de pretensão e orgulho humano querendo aparecer.

C. Métodos e Normas que são Geralmente Utilizados por Pastores Abusadores
(O autor deseja advertir novamente aos leitores de que o material a seguir contém informações que podem não ser agradáveis à grande maioria das pessoas.)
Pastores que abusam dos seus rebanhos seguem, normalmente, uma série comum de métodos e normas, visando estabelecer seu poder, domínio e controle absoluto sobre o povo de Deus. Entres estes métodos e normas podemos destacar as seguintes como sendo as mais comuns:
1. Pastores abusadores são extremamente defensivos quanto aos seus feudos particulares e tendem a agir de uma forma que é sempre abusiva quando se trata de defender seus próprios interesses. Os interesses pessoais de pastores abusadores estão, sempre, acima de quaisquer outros interesses. Não existe nenhum tipo de consideração cristã que possa intervir quando o que está em jogo for o interesse pessoal de algum pastor abusador. Em poucas palavras podemos dizer que para defender seus interesses vale-tudo para pastores abusadores.
2. Uma das características mais marcantes deste vale-tudo mencionado no item 1 acima, é a tendência constante de usar e abusar de passagens bíblicas, dentre as quais a favorita é: Não toqueis nos meus ungidos. Pastores abusadores aprendem, de forma bastante rápida, a manipular a Bíblia visando alcançar seus mais inconfessáveis propósitos.
3. Pastores abusadores, porque possuem uma visão distorcida de si mesmos, literalmente adoram serem exaltados e tratados com toda a honra, toda a deferência e toda a pompa e circunstância, que, em suas mentes doentias, imaginam o “ungido do Senhor” merece.
4. Pastores abusadores são todos aqueles que acham que os termos usados no Novo Testamento para descrevê-los, termos como pastores, presbíteros e bispos, são realmente títulos e indicadores de posição. Nas suas pequeninas cabeças imaginam que os “títulos” que possuem os habilitam a dominar, governar e até reinar sobre o povo de Deus. A estes homens falta um mínimo de inteligência para entenderem que os termos usados no Novo Testamento são meros descritores de função e não possuem nenhum tipo de conotação hierárquica ou de posição ou nível. Todos os crentes, sem exceção, estão “EM CRISTO”. Esta é a posição de todos os crentes: estamos todos “em Cristo”. Pastores estão “em Cristo”, da mesma maneira que as ovelhas estão “em Cristo”. Não existe nenhuma diferença posicional entre os crentes. O que existe são funções diferentes. E a função daqueles encarregados de cuidar do rebanho de Deus é descrita como a de alguém que cuida de ovelhas (pastor); como de alguém que possui maturidade espiritual para ensinar, admoestar e exortar (presbítero) e como alguém que possui a função de supervisionar o rebanho de Deus (bispo). Como pode ser facilmente percebido as três palavras, pastor, presbítero e bispo, são meras descritoras das funções que precisam ser executadas e não fazem nenhuma referência a algum tipo de hierarquia que deva existir na Igreja dos Ungidos do Senhor! Os termos que o Novo Testamento usa de pastor, presbítero e bispo não descrevem ofícios e sim as funções que precisam ser desempenhadas por aqueles chamados para cuidar do povo de Deus.
5. Pastores abusadores gostam de reprovar de forma pública e privada a todos que consideram desobedientes e insubmissos. Esta desobediência e insubmissão não têm nada a ver com a Bíblia ou com a sã doutrina e sim com a vontade pessoal do pastor abusador. As reprovações privadas tendem a ser bastante desagradáveis, pois os abusadores sabem que dificilmente alguém irá acreditar nas palavras de alguém que está rotulado de insubmisso ou desobediente. Esta situação permite aos pastores abusadores usar os termos que bem quiserem nestas conversas, fazer as alegações que bem entenderem por mais estapafúrdias que sejam, levantar graves acusações por mais levianas que sejam e tirar as conclusões que lhes forem as mais convenientes. É praticamente impossível sobreviver em um ambiente tão hostil. Mas há muitos que continuam tentando. Somente a eternidade irá revelar a verdadeira dramaticidade destas conversas perversas e funestas.
6. Intimamente associado à reprovação pública está o desprezo público ou o isolamento de certos membros. Pastores abusadores fazem questão de deixar bem claro quem são as pessoas que não estão lhes agradando, e por este motivo precisam ser tratadas da maneira mais fria possível. Irmãos fracos, ao verem o pastor colocar alguém “na geladeira”, seguem o mesmo mau exemplo e também passam a tratar o ferido da mesma maneira. Esta é uma das situações mais insuportáveis dentro de uma comunhão que se intitula cristã. Quando um pastor que deveria realmente estar cuidando da ovelha ferida, vira o rosto e age como se a ovelha não existisse, está cometendo um dos atos mais cruéis que podem ser praticados.
7. Pastores abusadores adoram subir nos púlpitos e disparar contra aqueles que consideram seus desafetos. Este é sem dúvida um dos piores atos que um pastor pode praticar: usar o tempo que deveria ser gasto para edificar o povo de Deus para resolver diferenças pessoais, muitas vezes com uma pessoa somente. Pastores abusadores sabem que o púlpito é prerrogativa exclusiva deles ou de quem eles convidam, portanto, sentem-se à vontade para maltratar as pessoas a partir daquela posição vantajosa. Quando sobem ao púlpito para agredir a quem quer que seja, os pastores abusadores demonstram apenas que são grandes covardes e como tais são dignos de uma coisa somente: desprezo absoluto.
8. Se a igreja possuir algum tipo de boletim o mesmo será usado por pastores abusadores para destilar triplamente o mais perverso tipo de veneno do qual se tem notícia. Este tipo de veneno intoxica a todos na igreja. Ninguém que saiba ler fica imune desta contaminação verdadeiramente maligna.
9. Ameaças de toda sorte são também parte do arsenal comum a todos os pastores abusadores. Ameaças que vão desde o simples afastamento de algum ministério, chegando até à excomunhão ou expulsão que é o termo favorito dos abusadores neste quesito. Da pretensa, mas real, posição de autoridade, o pastor abusador se sente perfeitamente confortável para atazanar a vida de suas ovelhas com todos os tipos de ameaças, com algumas chegando a beirar a imoralidade.
10. Pastores abusadores costumam ensinar suas ovelhas que toda insubordinação e desobediência é pecado grave e que este tipo de pecado é digno das mais severas e pesadas formas de disciplina. Desta maneira, a igreja está plenamente doutrinada e quando algo acontece todo mundo concorda com a violência praticada. Este é realmente um ciclo vicioso muito difícil de romper.
11. Outra característica bastante marcante entre pastores abusadores é a adoção de dois pesos e duas medidas como norma para o dia-a-dia. Este tipo de prática é tão comum, tratar uma mesma situação de duas maneiras diferentes, que a vasta maioria dos crentes dos dias de hoje já não reage a este estado de coisas. Preferem pensar que as coisas são assim mesmo. Que não adianta lutar. Que é bobagem se indispor. O autor entende todos estes argumentos, mas não pode deixar de chamar de covardes a todos que observam este tipo de prática e não se manifestam pela justiça e pela verdade! A motivação para o uso de dois pesos e duas medidas está completamente dependente àquilo que for o interesse do pastor abusador. São seus interesses pessoais e não a justiça e a verdade que interessam.
12. Pastores abusivos gostam de ensinar suas ovelhas, ideias que possam causar falsos sentimentos de culpa. Estes sentimentos, por sua vez, só podem ser aliviados mediante um curvar-se, quase imoral, diante da vontade do pastor ou, se a pessoa tiver condições, de polpudas contribuições. Os que não possuem dinheiro acabam por trabalhar como verdadeiros escravos para o pastor, sua esposa e filhos. Fazem de tudo: reforma e pintura de casas, cozinham, lavam, passam, cuidam do jardim, das crianças, fazem faxina, limpeza pesada, lavam carros, servem como motoristas e vai por aí afora. Pastores abusivos sabem que uma mente bem manipulada por falsa culpa é capaz de produzir muitas e muitas coisas.
13. Abusadores gostam de criar panelas e grupelhos de todos os tipos dentro das igrejas. A alguns eles estendem a mão e chamam estas pessoas de “amigos pessoais”. Este tipo de “amizade” vai muito além daquilo que dispensam aos outros irmãos da igreja. O resultado disto é que aqueles que são atraídos para dentro deste círculo íntimo compartilham o “poder” com o “chefe” e isto os faz leais até à morte, mesmo diante das maiores imoralidades que se possa ter notícia. Outros são privilegiados com posições “honradas” e destaques especiais naqueles ministérios que são considerados os mais “nobres”. Quanta hipocrisia é possível existir dentro de uma igreja é realmente difícil de se aferir. Mas os abusadores adoram tudo isto e se divertem enquanto seguem impunes. Mas o SENHOR vê tudo e certamente haverá um severo ajuste de contas na hora apropriada.
14. Uma das formas mais medonhas de abuso espiritual é aquilo que podemos chamar de esoterismo. Esta é a prática mediante a qual a verdadeira natureza dos ensinamentos, da agenda que está sendo seguida e das práticas que são adotadas é revelada somente para os mais “chegados” ou àqueles que progridem, de forma verdadeira, dentro do movimento a que pertencem. O autor tem tido a oportunidade de observar inúmeras denominações, algumas históricas inclusive, onde o verdadeiro propósito e agenda é sustentar e manter a boa vida da classe sacerdotal ou dominante. Milhares e milhares de “formiguinhas” trabalham como escravos e contribuem para que um pequeno grupo tenha tudo do bom e do melhor. No dia em que estes verdadeiros “escravos” do século XXI acordarem, e se derem conta de que não precisam dos “faraós”, este será um verdadeiro dia de glória.
15. Amor condicional é outro método favorito dos pastores abusadores. Só recebem amor aqueles que se enquadram perfeitamente dentro da vontade absoluta do abusador. Todos os outros são tratados com desdém e desprezo visível até por quem está apenas visitando o trabalho.
16. Abusadores exigem que qualquer pessoa que queira progredir na hierarquia que comandam, precisa, acima de tudo, ser um excelente modelo quando o assunto é contribuição. Posições de liderança são rigorosamente reservadas a pessoas que podem contribuir mais financeiramente.
Diante desta lista, verdadeiramente abominável, chega a ser ridículo perguntarmos por que as igrejas vão mal e estão tão enfermas. A resposta não precisa ser buscada na existência de demônios territoriais, inimigos da cruz nem em “irmãos insubmissos”. A resposta para muitos dos males que existem na igreja moderna passa pela qualidade da liderança existente. Passa pela triste constatação de que os abusadores não estão preocupados com o Povo de Deus e sim com seus próprios interesses. Se desejamos uma nova Reforma, a mesma precisa começar, necessariamente, pela remoção de líderes abusadores e sua substituição por verdadeiros líderes que sejam pastores-servos a serviço do Povo de Deus.

Conclusão.
Creio que chegou a hora de praticarmos uma verdadeira defenestração (3), espiritual é claro, arrancando as máscaras dos pretensos “ungidos do Senhor”; virando as costas e dando adeus aos “faraós modernos” e abandonando por completo aqueles que se especializaram em, abusar de todos nós. O autor não tem nenhuma dúvida que a vasta maioria dos problemas que enfrentamos na Igreja do século XXI, está diretamente relacionada às lideranças canhestras que se encastelaram nas posições de liderança das igrejas de todas as denominações, o que lhes permite manter, com mão de ferro, o absoluto controle sobre o Povo de Deus. Precisamos, urgentemente, pedir que Deus suscite uma nova geração de pastores que possuam genuínos corações de servos. Corações que estejam realmente no servir o povo de Deus e não em serem servidos. E, por favor, vamos aprender de uma vez por todas, que igrejas e ministérios multimilionários, não servem realmente aos propósitos de Deus de levar o evangelho a todas as pessoas deste mundo.

O Que Fazer?
O autor gostaria de agradecer a um leitor que me escreveu e sugeriu que eu procurasse oferecer algumas alternativas práticas às graves situações que costumo discutir em meus artigos. Então, atendendo à sugestão recebida, aqui vão algumas atitudes práticas para se livrar de situações de abuso espiritual.
Caso o leitor esteja vivendo uma situação como as descritas neste trabalho, o autor gostaria de sugerir alguns passos práticos para ajudá-lo a se livrar deste emaranhado de coisas:
1. Saiba que nada que será dito a seguir é fácil de ser colocado em prática devido a todos os mecanismos de dominação e controle que existem e que estão disponíveis aos pastores e igrejas abusadoras. Todavia, vale à pena tentar.
2. Em primeiro lugar você precisa entender como verdade bíblica, que não existem pastores que sejam “ungidos do Senhor” de uma forma especial. Precisa entender que você, a simples ovelha, recebeu de Deus mesmo, uma unção que é exatamente igual a que um pastor recebeu. Portanto não se sinta intimidado nem amedrontado diante das ameaças. Pastores são tão mortais quanto todos nós, mesmo que gostem de pensar de si mesmos mais do que convém – ver Romanos 12:3. Discordar de um pastor abusador pode não ser fácil, mas não trará as conseqüências anunciadas pelo abusador e seus seguidores.
3. Depois você precisa entender que não existe uma diferença de posição quando se compara a um pastor. A simples ovelha e o mais “exaltado” dos pastores estão exatamente na mesma posição: ambos estão “em Cristo”. Não existe, portanto, nenhuma diferença na posição. Pastores não estão em posições mais elevadas ao passo que as ovelhas estão em posições mais inferiores. Isto não existe, é uma invenção de homens maldosos e aproveitadores. Todos os crentes estão em uma e mesma posição: estamos todos EM CRISTO. Ver Efésios 4:11/16.
4. Precisa entender também que a mesma consideração e respeito que você deve ao irmão-pastor é exatamente a mesma que você deve a todos os outros irmãos. Por outro lado, os pastores devem exatamente a mesma consideração e respeito a todos os irmãos, sem exceção. Ver a lista de mandamentos de reciprocidade no final deste artigo. Os mandamentos de reciprocidade precisam ser praticados por todos os crentes, sejam eles ovelhas, sejam pastores. Note a quantidade de vezes que o mandamento de amor recíproco é repetido. Lembre-se, abuso espiritual é fruto absoluto da falta do amor de Deus na vida do abusador! Mesmo falando em nome de Deus, pastores-abusadores não possuem o amor de Deus em seus corações.
5. Além disso, precisa compreender que não existe nenhuma possibilidade de diálogo com um pastor abusador. Eles estão irremediavelmente viciados pelo poder e pelo prazer que o abuso provoca em suas mentes. Não perca tempo tentando argumentar. Não adianta nada. Não vale à pena. Ouça as palavras do Senhor com relação aos abusadores dos seus dias: Deixai-os; são cegos, guias de cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco – Mateus 15:14. No terceiro estudo desta série iremos analisar o confronto de Jesus com os abusadores de seus dias.
6. Não, você não irá para o Inferno se decidir abandonar o redil de um pastor abusador. Ou mesmo se decidir abandonar uma igreja abusadora. Aliás, quero recomendar que você faça exatamente isto. Não é uma decisão fácil, mas para seu próprio bem, quanto antes você tomar esta decisão, melhor para você. Lembre-se, o Faraó não gostava dos judeus, mas precisava deles! O pastor abusador não gosta de você, mas ele precisa de você. Você não precisa de nenhum pastor abusador. De fato, sem você não existe pastor abusador. Vire as costas e deixe ele se virar.
7. Você precisa estar disposto a obedecer ao Senhor e a ignorar aqueles que, usando o nome do Senhor, desejam somente escravizá-lo. Lembre-se, em todos os lugares onde o Espírito do Senhor está existe verdadeira liberdade – ver II Coríntios 3:17. Qualquer outra situação não passa de engodo para manter as pessoas cativas.
8. Lembre-se também, que na grande maioria das vezes, pastores abusadores e seus seguidores, agem de maneira completamente irracional. Agem como verdadeiros pit-bulls, atacando sem nenhuma justificativa plausível. Uma das maneiras mais comuns deste tipo de irracionalidade é tratar as pessoas como se elas não existissem. Ai! Como dói um irmão de muitos anos, de repente, virar o rosto e fingir que você não existe! Isto é o que eu chamo de atitude irracional. Bem, deixe-me dizer isto bem alto: NÓS NÃO TEMOS NENHUMA OBRIGAÇÃO DE NOS RELACIONAR COM PESSOAS IRRACIONAIS! Portanto, não se acanhe, tome uma decisão definitiva, de banir de sua vida, de uma vez por todas, estas pessoas que te tratam desta maneira.
9. Não adianta insistir. Falar, argumentar e até mesmo implorar não surte nenhum efeito em pessoas irracionais. Tentar convencê-los com argumentos lógicos irá apenas levar você à exaustão. Lidar com pessoas que agem desta maneira é estar em uma situação onde se é impossível vencer. Então, se você não pode vencer, pra que perder tempo batalhando?
10. Faça tudo que estiver ao teu alcance para evitar se ver aprisionado em situações em que você não tem à mínima chance de vencer. Fuja destas situações.
11. Procure alguma comunhão onde você possa ter suas feridas tratadas por um verdadeiro pastor-servo. Minha convicção é que Deus, em Sua misericórdia, ainda tem muitos homens deste calibre, espalhados por todos os lugares. Peça a orientação de Deus. Dependa da força que o Senhor mesmo pode suprir. Decida servir o Senhor livre de todos os impedimentos e tropeços que pastores abusadores insistem em colocar no caminho dos filhos de Deus.
Desde a publicação da primeira parte deste material, o autor tem recebido inúmeros e-mails com verdadeiras histórias de horror. Histórias de manipulações perversas, de distorções terríveis, de comportamentos inomináveis, de abusos espirituais abomináveis. É nossa firme convicção de que o Deus verdadeiro deseja conduzir suas ovelhas a pastos verdejantes, às águas de verdadeiro refrigério. Talvez estes artigos sejam usados por Deus para abrir os olhos de muitos, para que se libertem dos duros grilhões controlados por pastores e igrejas abusadoras.
O autor gostaria de pedir a todos os leitores que se unam a ele, em oração, ao Deus de toda misericórdia e Pai de todas as consolações, para que nos envie tempos de verdadeiro refrigério. Que o Senhor possa nos ajudar a reformar a igreja do século XXI, começando pela urgente, urgentíssima, reforma das nossas lideranças pastorais.

Apêndice A
Passagens Onde Ocorre a Expressão “Ungido do Senhor”
I Samuel 24:6 - e disse aos seus homens: O SENHOR me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do SENHOR. – SAUL.
I Samuel 26:9 - Davi, porém, respondeu a Abisai: Não o mates, pois quem haverá que estenda a mão contra o ungido do SENHOR - SAUL e fique inocente?
I Samuel 26:16 - Não é bom isso que fizeste; tão certo como vive o SENHOR, deveis morrer, vós que não guardastes a vosso senhor, o ungido do SENHOR - SAUL; vede, agora, onde está a lança do rei e a bilha da água, que tinha à sua cabeceira.
I Samuel 26:23 - Pague, porém, o SENHOR a cada um a sua justiça e a sua lealdade; pois o SENHOR te havia entregado, hoje, nas minhas mãos, porém eu não quis estendê-las contra o ungido do SENHOR – SAUL.
II Samuel 1:14 - Davi lhe disse: Como não temeste estender a mão para matares o ungido do SENHOR? – SAUL.
II Samuel 1:16 - Disse-lhe Davi: O teu sangue seja sobre a tua cabeça, porque a tua própria boca testificou contra ti, dizendo: Matei o ungido do SENHOR - SAUL.
II Samuel 19:21 - Então, respondeu Abisai, filho de Zeruia, e disse: Não morreria, pois, Simei por isto, havendo amaldiçoado ao ungido do SENHOR? – DAVI.
Lamentações 4:20 - O fôlego da nossa vida, o ungido do SENHOR, foi preso nos forjes deles; dele dizíamos: debaixo da sua sombra, viveremos entre as nações.

Apêndice B
Passagens Onde Ocorre a Expressão “teu ungido”
II Crônicas 6:42 - Ah! SENHOR Deus, não repulses o teu ungido; lembra-te das misericórdias que usaste para com Davi, teu servo.
Salmos 84:9 - Olha, ó Deus, escudo nosso, e contempla o rosto do teu ungido.
Salmos 89:38 - Tu, porém, o repudiaste e o rejeitaste; e te indignaste com o teu ungido.
Salmos 89:51 - com que, SENHOR, os teus inimigos têm vilipendiado, sim, vilipendiado os passos do teu ungido.
Salmos 132:10 - Por amor de Davi, teu servo, não desprezes o rosto do teu ungido.
Habacuque 3:13 - Tu sais para salvamento do teu povo, para salvar o teu ungido; feres o telhado da casa do perverso e lhe descobres

Apêndice C
Passagens Onde Ocorre a Expressão “meu ungido”
I Samuel 2:35 - Então, suscitarei para mim um sacerdote fiel, que procederá segundo o que tenho no coração e na mente; edificar-lhe-ei uma casa estável, e andará ele diante do meu ungido para sempre.
Salmos 132:17 - Ali, farei brotar a força de Davi; preparei uma lâmpada para o meu ungido.

Apêndice D
Passagens Onde Ocorre a Expressão “seu ungido”
I Samuel 2:10 - Os que contendem com o SENHOR são quebrantados; dos céus troveja contra eles. O SENHOR julga as extremidades da terra, dá força ao seu rei e exalta o poder do seu ungido.
I Samuel 12:3 - Eis-me aqui, testemunhai contra mim perante o SENHOR e perante o seu ungido: de quem tomei o boi? De quem tomei o jumento? A quem defraudei? A quem oprimi? E das mãos de quem aceitei suborno para encobrir com ele os meus olhos? E vo-lo restituirei.
I Samuel 12:5 - E ele lhes disse: O SENHOR é testemunha contra vós outros, e o seu ungido é, hoje, testemunha de que nada tendes achado nas minhas mãos. E o povo confirmou: Deus é testemunha.
I Samuel 16:6 - Sucedeu que, entrando eles, viu a Eliabe e disse consigo: Certamente, está perante o SENHOR o seu ungido.
I Samuel 26:11 - O SENHOR me guarde de que eu estenda a mão contra o seu ungido; agora, porém, toma a lança que está à sua cabeceira e a bilha da água, e vamo-nos.
II Samuel 22:51 - É ele quem dá grandes vitórias ao seu rei e usa de benignidade para com o seu ungido, com Davi e sua posteridade, para sempre.
Salmos 2:2 - Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido, dizendo:
Salmos 18:50 - É ele quem dá grandes vitórias ao seu rei e usa de benignidade para com o seu ungido, com Davi e sua posteridade, para sempre.
Salmos 20:6 - Agora, sei que o SENHOR salva o seu ungido; ele lhe responderá do seu santo céu com a vitoriosa força de sua destra.
Salmos 28:8 - O SENHOR é a força do seu povo, o refúgio salvador do seu ungido.
Isaías 45:1 - Assim diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações ante a sua face, e para descingir os lombos dos reis, e para abrir diante dele as portas, que não se fecharão.
Atos 4:26 - Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o seu Ungido.

Apêndice E
Lista dos Mandamentos de Reciprocidade
Romanos 12:10 - Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros.
Romanos 13:8 - A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei.
Romanos 14:13 - Não nos julguemos mais uns aos outros; pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão.
Romanos 15:7 - Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus.
Romanos 15:14 - E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros.
Romanos 16:16 - Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo. Todas as igrejas de Cristo vos saúdam.
I Coríntios 16:20 - Todos os irmãos vos saúdam. Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo.
II Coríntios 13:12 - Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo.
Gálatas 5:26 - Não nos deixemos possuir de vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros.
Efésios 4:2 - com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor.
Efésios 4:32 - Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou.
Efésios 5:21 - sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo.
Colossenses 3:9 - Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos
Colossenses 3:13 - Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós;
I Tessalonicenses 4:9 - No tocante ao amor fraternal, não há necessidade de que eu vos escreva, porquanto vós mesmos estais por Deus instruídos que deveis amar-vos uns aos outros;
I Tessalonicenses 4:18 - Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras.
I Tessalonicenses 5:11 - Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente, como também estais fazendo.
Hebreus 10:24 - Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras.
Tiago 5:16 - Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.
I Pedro 1:22 - Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente.
I Pedro 4:10 - Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.
I Pedro 5:14 - Saudai-vos uns aos outros com ósculo de amor. Paz a todos vós que vos achais em Cristo.
I João 3:11 - Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros.
I João 3:23 - Ora, o seu mandamento é este: que creiamos em o nome de seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o mandamento que nos ordenou.
I João 4:7 - Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.
I João 4:11 - Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros.
I João 4:12 - Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado.
II João 1:5 - E agora, senhora, peço-te, não como se escrevesse mandamento novo, senão o que tivemos desde o princípio: que nos amemos uns aos outros.

(1) Todas as citações bíblicas neste artigo são da versão de Almeida Revista e Atualizada (ARA) publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil a menos que outra tradução seja indicada.

(2) Benny Hinn declarou ter visitado os túmulos de Aimee Semple McPherson fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular e de Katherine Kuhlman, evangelista que lotou por cerca de 20 anos o grande auditório “Carnegie Hall” em Ohio com suas mensagens acerca de cura divina.


(3) Defenestração significa: lançar pessoa ou objeto pela janela afora. A palavra possui um contexto histórico que é conhecido como a “Defenestração de Praga” ou "Der Prager Fenstersturz", quando, após a Reforma, em 1618, o povo lançou para fora das janelas os líderes político-religiosos de Praga. Foi este evento que ensejou a mais conhecida “Paz de Westfália” que deu fim à famigerada “Guerra dos Trinta Anos”. Este é o motivo porque qualifiquei a mesma como uma atitude espiritual. Não queremos ninguém sendo literalmente lançado para fora pela janela; não é mesmo?

ABUSO ESPIRITUAL- I


Abuso Espiritual - Parte 1

O Problema dos Pastores Profissionais

Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo – Efésios 5:21.
Julgai todas as coisas, retende o que é bom, abstende-vos de toda forma de mal – I Tessalonicenses 5:21/22
Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede - João 6:35.
Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão – Gálatas 5:1.
Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor – Gálatas 5:13.
Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória – I Pedro 5:1/4.


Atenção: O material a seguir destina-se à leitura de pessoas maduras e pode ser profundamente perturbador à grande maioria dos leitores. O autor recomenda grande discrição no uso deste material e na exposição do mesmo.


INTRODUÇÃO

Os discípulos do Senhor Jesus, felizmente, eram como todos nós. Isto quer dizer que eram pecadores e falhos como todos nós somos. Nos dias do Antigo Testamento o Salmista se refere ao Deus de Jacó como uma maneira de nos consolar em meio às nossas fraquezas quando diz: Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio, cuja esperança está no SENHOR, seu Deus - Salmo 146:5 . A expressão “Deus de Jacó” é uma referência clara ao fato de que Deus está acostumado a lidar com pessoas pecadoras e contraditórias como Jacó e como qualquer um de nós. Bendito seja Deus, o Senhor, que nos ama apesar de sermos o que somos. Mas como falamos no início, os próprios apóstolos do Senhor Jesus não eram diferentes de cada um de nós. Como tal estavam sujeitos às mesmas tentações e desvios de conduta que ameaçam a vida de qualquer um de nós. O registro dos Evangelhos está cheio de circunstância onde o Senhor precisou agir com firmeza para corrigir estas situações anômalas na vida dos Seus discípulos e apóstolos. Uma destas circunstâncias é aquela que trata do pedido de Tiago e João e da mãe deles, que havia decidido agir como se fosse uma verdadeira empresária dos próprios filhos. O pedido em questão, feito ao Senhor Jesus, era o seguinte: Então, se chegou a ele a mulher de Zebedeu, com seus filhos, e, adorando-o, pediu-lhe um favor. Perguntou-lhe ele: Que queres? Ela respondeu: Manda que, no teu reino, estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita, e o outro à tua esquerda – Mateus 20:20/21.
O pedido de Tiago e João visava satisfazer a uma das necessidades mais básicas que existem em todos os seres humanos que é ter autoridade sobre outros que são seus iguais! Este é um sério problema dos seres humanos: o desejo de quererem ser “mais” iguais que os outros. É óbvio que os outros discípulos, sendo também humanos, não aplaudiram o pedido feito por Tiago e João. E por que não? Porque cada um dos outros dez discípulos desejava ocupar, ele mesmo, um daqueles lugares à direita e à esquerda do Senhor Jesus, no Seu reino glorioso. De fato o texto bíblico diz que os dez ficaram indignados com os dois irmãos – ver Mateus 20:24. O Senhor Jesus tratou com bastante firmeza aquela situação, procurando mostrar aos discípulos que as regras que deveriam existir entre eles eram diversas das regras que existiam entre as pessoas que não são discípulos de Jesus. Ele disse: Ora, ouvindo isto os dez, indignaram-se contra os dois irmãos. Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos – Mateus 20:24/28.
O princípio que o Senhor Jesus quis ensinar era bastante necessário e urgente naquele momento. A saúde da futura Igreja Cristã iria depender, em parte, da obediência às palavras de Jesus acima mencionadas. Um dos aspectos do verdadeiro Cristianismo que mais encanta este autor é o fato de que nosso Deus e Senhor é sempre nosso exemplo naquilo que demanda de nós. Isto é verdade com relação ao ensino acerca de como se tornar realmente grande entre o povo de Deus. Quando o Senhor Jesus confrontou Seus discípulos, mostrando-lhes como a conduta deles precisava ser diferente do exemplo que viam na humanidade em geral, emendou dizendo que esta havia sido a atitude ou exemplo que estavam recebendo d’Ele. Em outras palavras, Jesus disse aos discípulos que eles pertenciam a uma comunidade de pessoas que eram rigorosamente iguais e que não deveria existir nenhum tipo de interesse dominador por parte de uns sobre os outros como estava implícito no pedido de Tiago e João. O serviço cristão praticado de uns para com os outros produz apenas o bem ao passo que o desejo de dominar sobre outros conduz irremediavelmente a partidarismos, contendas, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas bem como a abusos de toda sorte – ver Gálatas 5:19/21.
Cerca de dois mil anos se passaram desde que o Senhor Jesus ensinou estas verdades. Independente deste fato é com grande pesar que constatamos nos nossos dias, que ainda temos um longo caminho a percorrer quando o assunto é servir uns aos outros como um mandamento que deve valer indistintamente para todos aqueles sobre os quais o bom nome do Senhor foi invocado. Temos observado, com grande tristeza, inúmeros abusos que estão ocorrendo no seio da Cristandade (2) em geral bem como no seio do Cristianismo em particular. Estes abusos têm causado inúmeros males ao corpo de Cristo, que é Sua Igreja, além de destruir por completo inúmeras vidas. Muitos destes que foram abusados perderam a fé e alguns até se tornaram inimigos da fé cristã como conseqüência direta dos abusos que sofreram. É intenção do autor discutir tão delicado assunto visando contribuir para que de alguma maneira possamos seguir no caminho do serviço em vez do caminho do autoritarismo e do abuso espiritual. Nesta questão envolvendo abuso espiritual temos descoberto que não existem inocentes. Lideranças (3) e liderados (4) são igualmente responsáveis pelo descalabro que podemos observar e igualmente culpados pelos males praticados.


A. Liderança como Serviço e não como Senhorio.

1. A Tênue Linha que Separa o Serviço do Senhorio.

Conforme vimos o Senhor Jesus advertiu severamente seus discípulos contra o desejo de se tornarem senhores uns sobre os outros e podemos dizer, por extensão, de se tornarem senhores sobre o povo de Deus. Existe uma linha muito fina entre serviço e senhorio, entre discipulado e dominação. O que temos notado é que em muitos casos a linha se torna tão tênue que é mesmo impossível distinguir onde o primeiro terminou e o segundo começou. A grande maioria das lideranças com as quais convivemos, têm cruzado esta linha sem muita cerimônia e não escondem seu aborrecimento quando confrontadas pelos fatos. Em um próximo artigo falaremos do poderoso arsenal ao qual costumam recorrer para se defender. Não estamos querendo colocar todo mundo dentro de um mesmo saco e por este motivo é importante que mencionemos que existem líderes sensíveis a esta tênue linha e que procuram manter uma posição equilibrada com relação à mesma. Outros há que transgridem o limite, mas se arrependem e voltam ao bom senso representado pelo serviço cristão. Outros há, por fim, que não sabem funcionar se não estiverem completamente do outro lado da linha como senhores absolutos sobre o povo de Deus. Infelizmente, nos nossos dias, este último tipo tem sido bem mais freqüente do que gostaríamos de ver.

2. A Questão Representada pela Existência dos “Servos” Profissionais.

Outra questão importante para a nossa discussão é a profissionalização da liderança, especialmente, da liderança pastoral. Todos os pastores, sejam de tempo integral, sejam de tempo parcial, sabem que seu sustento e o de suas famílias dependem diretamente das comunidades locais que estão pastoreando. E esta não é uma questão periférica. Muito pelo contrário é uma questão central. Muitos pastores cruzam a linha mencionada no item anterior motivados e movidos por recompensas financeiras e ambição pessoal. Assim continua verdadeiro o princípio mencionado pelo apóstolo Paulo de que o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores – I Timóteo 6:10. Nos últimos anos temos podido notar um número cada vez maior de “servos” profissionais que têm usado o povo de Deus para construir seus pequenos impérios que incluem, entre outras coisas, residências em diversas cidade e países, automóveis, móveis e roupas de luxo, canais de televisão e estações de rádio etc. Estes verdadeiros “senhores”quando confrontados com a dura realidade representada pela Palavra de Deus, muito dificilmente se arrependem, preferindo lançar mão de um poderoso arsenal, que na realidade não passa de um grande besteirol, para justificar seus desmandos.

3. Tanto faz mentor ou tutor, o exemplo vem sempre de cima.

Esta parece ser uma das mais inflexíveis leis na História da Humanidade. O exemplo vem sempre de cima, ou seja, o exemplo estabelecido pela liderança será sempre imitado e servirá de inspiração e motivação para quem está mais em baixo. Se o exemplo for ruim, então as conseqüências serão verdadeiramente devastadoras. Nos dias de hoje é bastante comum, pastores se espelharem nos métodos e na forma de agir daqueles que podem ser percebidos como sendo bem sucedidos. Por sucesso, neste contexto, não estamos nos referindo à fidelidade à palavra de Deus como proposto pelo apóstolo Paulo em I Coríntios 4:2 e sim ao sucesso como percebido pelo mundo e que pode ser medido em números. Fidelidade, como bem sabemos, não é mensurável em números. É necessário que tanto quem lidera quanto quem é liderado seja fiel à revelação bíblica. Este fato, por si só, seria um poderoso antídoto contra todo o veneno que tem sido disseminado no corpo de Cristo, no que diz respeito aos maus exemplos que estão sendo estabelecidos e seguidos. O ensino das Escrituras é claro quanto à responsabilidade de todos os crentes de julgai todas as coisas, retende o que é bom; abstende-vos de forma de mal – I Tessalonicenses 5:21/22.

4. Nobreza ou rebelião?

O médico Lucas, que nos legou o Evangelho que leva seu nome, também nos deixou um segundo tratado. Estamos falando do Livro dos Atos dos Apóstolos. Neste livro, no capítulo 17, Lucas descreve, entre outras coisas, a visita que Paulo, Silas e o próprio Lucas fizeram às cidades de Tessalônica e Beréia. De acordo com o texto Bíblico a atitude dos bereanos causou profunda impressão nos visitantes. Nas próprias palavras de Lucas os de Beréia, eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim – Atos 17:11.
Nos dias de hoje qualquer um que tente imitar o bom exemplo que nos foi deixado pelos bereanos será rigorosamente tachado de “rebelde”. A atitude inquisitiva que procura confirmar se certas práticas são mesmo bíblicas é definida como rebelião com o acusado sujeito a sofrer grandes abusos por parte da liderança questionada. Este tipo de abuso ocorre em duas frentes. A primeira é quando o líder usa as Escrituras de forma abusiva para ensinar ou justificar práticas que não se sustentam diante de uma análise mais apropriada. Neste caso não importa o que a Bíblia ensina e sim a interpretação particular que foi fornecida pelo líder A segunda ocorre quando o líder ignora por completo a Bíblia e parte para ensinar algo que nem de longe poderia ser justificado pelo ensino das Escrituras. A falta de discernimento e de uma atitude mais positiva, à moda bereana, por parte dos liderados é o elemento singular que mais contribui para que este tipo de abuso espiritual ocorra no seio da Igreja Cristã.

5. O que se exige e o que se permite.

Outro problema que existe no contexto das relações entre liderança e liderados diz respeito às exigências que pesam sobre a liderança, exigências estas feitas pelo Senhor da Igreja e pela Sua palavra e aquilo que lhes é permitido pelas comunidades às quais ministram. Aquilo que os líderes deveriam estar fazendo e ensinando de acordo com as Escrituras e aquilo que eles estão fazendo na prática normalmente não se encaixam. O grande dilema enfrentado pelos pastores é a enorme inconsistência que enfrentam entre o que Deus demanda e o que as comunidades estão dispostas a tolerar. Como os líderes são normalmente eleitos e sustentados pelas comunidades nas quais atuam este dilema torna-se o mais agudo.

Conclusão.

O surgimento de “servos” profissionais produziu no seio da cristandade uma série de fatores que têm feito com que muitos líderes, alguns até bem-intencionados, cruzem a tênue linha que existe entre um ministério legítimo de um completamente ilegítimo. Estes “servos”, em vez de servir, acabam por substituir o verdadeiro discipulado por uma dominação que nada tem de cristã. Em vez de liderar pelo exemplo se tornam “senhores” sobre o rebanho de Deus que, diga-se de passagem, não lhes pertence.


B. Redefinindo certos Termos.

Uma das características mais marcantes dos líderes que praticam o abuso espiritual é a insistência em redefinir certos termos. Palavras acerca das quais estávamos absolutamente certos de conhecermos o significado, de forma precisa, são manipuladas a um nível que as tornam irreconhecíveis. A manipulação é tão extensa e profissional que chegamos a duvidar se alguma vez entendemos, realmente, o significado de certas palavras.

1. Autoridade.

Não existe no seio da cristandade nenhuma outra palavra que seja mais abusada pelos abusadores espirituais do que a palavra autoridade. O ensino bíblico é bastante claro nas afirmativas que faz de que autoridade significa poder exercido de maneira apropriada – ver Mateus 9:6; João 1:12; João 10:17/18 e João 17:2 etc. Por este motivo, todo exercício de poder de maneira imprópria, não é exercício de autoridade e sim de abuso espiritual. Como esta questão é bastante sutil é mais fácil indicar situações onde existe abuso espiritual, ou seja, onde o poder é exercido de maneira não apropriada, do que discutirmos as questões genuinamente semânticas relacionadas a este termo. Líderes acostumados a abusar espiritualmente das pessoas confiadas à sua guarda poderão manifestar as seguintes características:
Estender a autoridade da liderança a áreas da vida que ultrapassam os limites representados por questões morais e de valores apresentados na Bíblia. Um exemplo clássico é quando a liderança quer determinar com quem uma pessoa pode namorar e até casar. Outro aspecto tem a ver com interferências acerca de que profissão seguir e etc.
Impor sanções quando não houver submissão ao item anterior.
Promover um sentimento de culpa generalizado quando não existir conformação automática aos desejos manifestos da liderança.
Rotular as pessoas que resistem serem manipuladas de: insubmissos, orgulhosos, corações endurecidos etc.
Agir como se fosse o próprio Deus na vida das pessoas.
Manipular e torcer a palavra de Deus para conformá-la aos desejos da liderança.
Confrontar de maneira permanente o pecado na vida de todas as pessoas. Quanta hipocrisia pode existir nesta prática é simplesmente impossível de dizer.
Ensinar que as pessoas devem ser julgadas pelas opiniões que possuem acerca da liderança.
Ensinar que não existe verdadeiro discipulado fora do redil em que a pessoa se encontra.
Ensinar que Jesus não é mais todo suficiente – ver João 6:35 - e que é necessário seguir as muitas invencionices, nenhuma delas bíblica, diga-se de passagem, que impõe sobre as pessoas.
Ensinar que inúmeras coisas são pecaminosas quando a própria Bíblia nada diz diretamente acerca destes mesmos assuntos.
Ensinar que ser um verdadeiro seguidor de Jesus significa colocar a vontade de outro, normalmente a vontade do próprio líder, acima da própria vontade.
Transmitir a sensação de que a pessoa está realmente afundando na fé quando ela começa a considerar abandonar o redil em que se encontra.
Fazer com que pessoas rejeitem promoções no serviço, mudança de cidades ou novas oportunidades apenas para se manterem onde estão em completa submissão à liderança.
Torcer de maneira perversa o uso de palavras como obediência e submissão.
Se o leitor se encontra em um ambiente onde qualquer uma destas características está presente, é necessário tomar muito cuidado, pois o perigo de estar sendo abusado espiritualmente é bastante real.

2. Independente.

Um teste simples talvez seja a melhor maneira de entendermos como esta palavra tem sido redefinida. Faça o seguinte: escreva no centro de uma folha de papel a palavra “independente”. Depois, escreva outras palavras que lhe vêm à mente e que estejam relacionadas com independente. Terminada esta fase, analise francamente se a palavra “independente” bem como as outras palavras anotadas descrevem alguém de forma positiva ou negativa. Quais são as características de uma pessoa realmente independente. Agora, procure ver o termo independente ou livre, à luz de Gálatas 5:1/13, nomeadamente os versículos 1 e 13. Ser independente significa que temos a liberdade de vivermos não como queremos e sim como devemos. Mas este modo de vida é muito imprevisível para os dominadores. Eles preferem estabelecer regras fixas e rígidas para seus seguidores. Nenhuma independência ou liberdade como ensinada na Bíblia serão toleradas. Na Bíblia, independência e pecaminosidade não mantêm nenhuma relação direta. Paulo era bastante independente por um lado e completamente dependente de Deus por outro.

3. Obediência e submissão.

Estas palavras são verdadeiras “pedras-de-toque” no jargão dos abusadores. Obediência cega e submissão inquestionável à liderança são as maiores características dos discípulos na opinião da liderança religiosa abusadora. Amor, fé e esperança são secundários, apesar da Bíblia nos ensinar exatamente o contrário!


C. Autocracia na Igreja.

O termo autocracia não é usado nesta divisão de forma equivocada como alguns poderão pensar. Infelizmente nossa experiência nos tem mostrado que existem muitos líderes autocráticos nas igrejas cristãs, independente da denominação. A expressão “autocracia” é definida pelo dicionário Aurélio Século XXI como: “Governo de um príncipe, com poderes ilimitados e absolutos”. É realmente uma pena que no meio cristão existam tantos líderes “governando” a igreja desta maneira. Para a grande maioria deste tipo de líderes os irmãos e as irmãs são completamente insignificantes. Bem, como toda regra tem sua exceção, os irmãos e irmãs são importantes somente em um único momento: na hora de contribuir. De acordo com um velho amigo, a maioria das igrejas modernas concedem aos seus membros estes dois direitos inalienáveis:
Pagar as contas. Todas as contas, inclusive os salários daqueles que são abusadores.
Calar a boca. Ou ficar de boca fechada mesmo diante dos maiores descalabros imagináveis.
O governo autocrático ocorre todas as vezes que um determinado grupo, que pode ser chamado de diretoria, conselho, presbitério etc, passa a controlar, com mão de ferro os meios de disciplina. Este controle, diga-se de passagem, é exercido de modo cabal. Nenhum tipo de “má conduta” pode ser nem será tolerado de fato. Toda e qualquer resistência será sumariamente fulminada. A Bíblia e o bom senso cristão submetido ao Espírito Santo são ignorados por completo. O que vale são os interesses do grupo no poder. Qualquer ameaça, seja real ou apenas imaginária é confrontada com toda a força possível, de tal maneira que não reste a menor dúvida acerca de “quem manda”. A sensação de impunidade destes indivíduos beira realmente ao absurdo. São verdadeiros “sacripantas” (5). Mas, como é que tanta barbaridade tem sido cometida no seio de igrejas cristãs? Como é possível que estas formas abusivas de pensamentos e ações permaneçam e sejam justificadas? A resposta a estas perguntas não é realmente muito complexa. O poder é criado e mantido através de um artifício muito simples. Este artifício constitui em sacralizar - atribuir caráter de sagrado - a certas formas de pensamento e de comportamento que privilegiam a classe dominante como se ela fosse melhor ou mais próxima de Deus do que o resto dos cristãos. Levantar-se contra a casta dominante torna-se sinônimo de levantar-se contra o próprio Deus. E isto, meu caro leitor, não pode ser tolerado em nenhuma hipótese. Estes privilégios são, por sua vez, preservados e garantidos mediante o estabelecimento e o controle de mecanismos institucionais que agem e reagem de forma absolutamente “sem misericórdia e sem perdão”, contra toda e qualquer forma de pensamento ou comportamento que não se conforma com o que a autocracia espera ou deseja.
A autocracia é real e suas ações são devastadoras para dizer o mínimo.
Não existe solução alternativa para os abusados que não seja a de sair da instituição e expressar o profundo desprezo que sentem por estes senhores de quinta categoria.


(1) Todas as citações bíblicas neste artigo são da versão de Almeida Revista e Atualizada (ARA) publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil a menos que outra tradução seja indicada.
(2) O autor chamará de “Cristandade” esta religião falsa, espalhada pelo mundo, que se auto-intitula de cristã. Mesmo não gostando do termo “Cristianismo”, pelo reducionismo ideológico que ele causa, o mesmo será usado para se referir à verdadeira igreja cristã espalhada pelo mundo.
(3) O termo “liderança” será usado neste estudo para descrever aqueles que se intitulam, por exemplo, como Apóstolos, Reverendos, Pastores, Bispos, Anciãos, Presbíteros, Diáconos, Ministros do Evangelho, membros da Diretoria ou membros do Conselho etc.
(4) O termo “liderados” define neste estudo, todos aqueles que não se enquadram nos pomposos títulos da nota de número 3.
(5) É com grande pesar que o autor constata que nossos líderes religiosos, independente de se denominarem pastores, presbíteros, diáconos, anciãos, diretores etc, se parecem em demasia mais com o personagem Sacripante, que era pessoa de índole violenta, mau caráter e falsamente piedosa, e que é descrito no poema Orlando Innamorato, de Matteo-Maria Boiardo (1434-1494), e no poema Orlando Furioso, de Luigi Ariosto (1474-1533).

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